os lábios ressecados
pelo frio
sussurram uma voz que
um dia foi ouvida
rouquidão,
eu me entrego a sua suaviloqüência
e deixo desatar as cores da tua voz
que caem
displicentemente
num relicário de delicadezas
ou então
guardo-as na caixinhas de espera
e te sigo na espera
e te deixo livre
só então te executo,
como um músico que executa
sua canção cheia de silêncio
e de vozes, também roucas
nenhuma amplidão me cabe
agora
senão a amplidão do amor
(suave casaco que uso,
ao teu encontro,
seria amplidão?)
dos lábios,
só ressecam em contato com o frio
e com cigarros
mas interferem na voz: rouquidão,
não esta rouquidão comum,
atribuída a milhares de doentes,
outra: uma rouquidão que nasce do efeito
de estar ao lado da pólvora, do dinamite luminoso
à escuta,
extremo espelho de um espaço
que não cabe em mim, pois já
não sou matéria palpável: sou luz
brilhantemente luz
atenta aos olhos,
numa espera rouca de se acender.
6 comentários
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24 junho, 2007 às 3:26 pm
Luisa
rouquidão é uma palavra curiosa.
gosto do tema :]
mesmo propositadamente, a repetição de algumas palavras me encomoda em alguns momentos.
o poema tem um bom ritmo. me gusta.
29 junho, 2007 às 3:58 am
Srta. Bia
“suaviloqüência”, primeira vez na vida que li isso.
achei seco, apesar da voz, apesar das belas palavras pensadas. um vinho branco seco.
30 junho, 2007 às 12:00 am
ana
escuto a voz a escutar-me; escuto a boca de onde escorre, ar e miçangas de cristais, líquido veludo, e amoras estouram nas minhas veias…
escuto a voz que sussurra e é vento, carrega folhas e serpentes, suspiros, macios dentes, e viaja pelo fio de uma fila de formigas iridescentes…
calo ao escutar-me escutando o eco de mim mesma na voz que escuto e é quente, baixa, uma mão esfregando outra mão, esse som, mágico, quase inaudível, faz, escuta, sente…
essa voz que preenche poros e verte veredas, vertentes, vermelhos, ressucita-me, porque sou poeta, ressucita-me por isso, essa voz esquecida em um grão de areia que abriga uni-versos, essa voz ausente e que, de repente, acende a casa e me acende, e diz que vai ficar.
5 julho, 2007 às 4:59 am
Marcos
Bom te ler, meu caro. Bom te ler.
16 julho, 2007 às 8:28 pm
Beatriz Bajo
Ahhhhh!! novamente bom estr aqui!!!
“e deixo desatar as cores da tua voz
que caem
displicentemente
num relicário de delicadezas”
isso é de uma delicadeza tão cara quanto a imagem poética!!
e a espera rouca? assim que te grito ao ler-te!
amplexos
16 julho, 2007 às 8:28 pm
Beatriz Bajo
Ahhhhh!! novamente bom estar aqui!!!
“e deixo desatar as cores da tua voz
que caem
displicentemente
num relicário de delicadezas”
isso é de uma delicadeza tão cara quanto a imagem poética!!
e a espera rouca? assim que te grito ao ler-te!
amplexos